Lembro como se fosse hoje. Estava na ante-sala do então chefe da Polícia Civil do Espírito Santo, na antiga chefatura em Bento Ferreira. Dr. Gilberto Barros de Farias quando chegou uma mãe chorando desesperada e com a foto da filha nas mãos.
Era 18 de maio de 1973, por volta das 17h30. A mulher era a boliviana Lola Chances Crespo, e a foto era da filha Araceli Cabrera Sanchez Crespo, à época com 8 anos de idade. Começava ali o Caso Araceli que se tornou famoso em todo o Mundo pela violência que sofreu aquela criança. Foi sequestrada, drogada, estuprada e assassinada.
Esse bárbaro episódio serviu apenas para algo como homenagear Araceli como passou o Dia 18 de Maio a ser considerado Dia Nacional de Combate ao Abuso Sexual contra Crianças.
Recordo que naquele momento que percebi o desespero da mãe logo me dirigi ao Dr. Gilberto e usei das seguintes palavras: “Dr. tem uma mãe aí fora desesperada com a foto da filha que desapareceu. Se a polícia não agir rápido vai ser difícil encontra-la se passar mais tempo”. E foi o que aconteceu. Dois dias depois o corpo de Araceli foi encontrado totalmente desfigurado e em adiantado estado de decomposição.
À época trabalhava como repórter do Jornal da Cidade, na atrás do Teatro Carlos Gomes, no Centro de Vitória. Fui o primeiro a publicar a foto no Jornal que pertencia aos jornalistas Djalma Juarez Magalhães e Maria Nilce, outra que foi brutalmente assassinada anos depois.
Começa ali trajetória deste repórter que “furou” os grandes jornais da época A Gazeta, A Tribuna e o terceiro periódico, Jornal O Diário. Estava sacramentado ali o Furo de um Foca. Foca era a expressão usada na época para chamar repórter em início de carreira.
E o resto da história a maioria do capixaba da época se recorda. Foram anos e anos do processo na Justiça e até hoje o caso ainda não teve uma solução, apesar dos poderosos da época das famílias Helal e Michelini terem sido indiciados, depois condenados e mais à frente absolvidos.
Muitas pessoas que direta ou indiretamente participaram do caso como jornalistas, políticos e até testemunhas morreram, alguns de forma violenta como Luiz Emoção e Sebastião Soares (jornalistas), Marislei Fernandes Muniz, o deputado Clério Falcão, dentre outros. Cheguei até a esboçar um livro que tinha como titulo “A Maldição de Araceli”, mas não tive respaldo financeiro para ir à frente pois revelaria os bastidores que implicariam no envolvimento de gente da alta sociedade.
E o restante todo mundo sabe.
E 48 anos depois, o mistério continua!
Só para lembrar, Araceli tinha oito anos de idade, morava com os pais Gabriel Sanches Crespo e Lola Cabrera Sanches Crespo, no bairro de Fátima, na Serra, e estudava no Colégio São Pedro na Praia do Suá, em Vitória, de onde teria sido levada para o Bar e Restaurante Franciscano, na Avenida Dante Michelini, em Camburi, onde foi estuprada, drogada e acabou sofrendo overdose, tendo o corpo jogado nas matas do Hospital Infantil por Paulinho Helal e Dantinho. O pai de Dante de Barros Michelini, o Dantinho, Dante de Brito Michelini também foi indiciado pelo crime, mas já morreu.